28 junho 2010

Morrer é só não ser visto


O que mais me intriga e dói na nossa morte, como vemos na dos outros, é que nada se perturba com ela na vida normal do mundo. Mesmo que sejas uma personagem histórica, tudo entra de novo na rotina como se nem tivesses existido. O que mais podem fazer-te é tomar nota do acontecimento e recomeçar. Quando morre um teu amigo ou conhecido, a vida continua natural como se quem existisse para morrer fosses só tu. Porque tudo converge para ti, em quem tudo existe, e assim te inquieta a certeza de que o universo morrerá contigo. Mas não morre. Repara no que acontece com a morte dos outros e ficas a saber que o universo se está nas tintas para que morras ou não. E isso é que é incompreensível - morrer tudo com a tua morte e tudo ficar perfeitamente na mesma. Tudo isto tem significado para o teu presente. Mas recua duzentos anos e verás que nada disto tem já significado.



Vergílio Ferreira, in Pensar

2 comentários:

  1. O que chateia mesmo, é que não é como nos jogos em que morres e a seguir estas pronto outra vez para recomeçar, morres... é para sempre e o tempo não volta atrás.

    Quem não tem "medo" da morte?

    Tu, eu, todos temos



    Dr

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  2. Acho que medo da morte não é a palavra certa, talvez pena de morrer. Isso, pena de morrer. Não?


    *

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